terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ampliando o debate

Uma questão que considero fundamental, e que tem passado muito ao largo do debate sobre a segurança pública, é a legalização das drogas ilícitas. Sei que a medida é algo muito difícil de ser prontamente implantada, mas é necessário ampliar o debate.
Só quando as drogas forem lícitas é que deixaremos de ter problemas da ordem dos que enfrentamos em São Paulo. Somente quando elas deixarem de ser um problema de segurança para serem um de saúde pública é que seremos capazes de evitar a enorme mortalidade de jovens, respeitando mais os direitos humanos e a vida.
Atualmente, milhares de homens entre 16 e 24 anos morrem vítimas da violência nas periferias das grandes cidades, outras centenas de milhares estão encarcerados nos presídios espelhados pelo país. A lei e os fora da lei são muito duros com os traficantes, é cadeia ou cemitério. Porém, não adianta encarcerá-los ou matá-los, é preciso que esses jovens vivam para que esse país possa crescer.
A progressiva liberação e regulamentação do comércio e do uso das substâncias atualmente proibidas vai transferir parte do problema. O que hoje envolve segurança, passará a envolver saúde. É muito provável que passemos a ter mais acidentes de trânsito e que mais pessoas sofram overdose, mas será possível, com o dinheiro arrecado com os impostos sobre as drogas, melhorar nosso sistema de saúde pública.
Os recursos obtidos com o comércio ilegal de drogas hoje constituem um dinheiro sujo, destinado à compra de armas, para a sedução de novos comerciantes em tão perigoso negócio e para corromper agentes públicos, tais como políticos, juízes, promotores e policiais. Com a legalização será um dinheiro limpo, que poderá ser investido em saúde e educação, com melhores escolas e campanhas educativas contra o uso de entorpecentes e mostrando claramente quais são as conseqüências de seu uso.
Esse assunto dificilmente terá o apoio social e político imediato, uma vez que até políticas de redução de danos sofrem resistência em setores organizados. Propostas desse cunho raramente aparecem na agenda algum governo ou mesmo nos discursos dos candidatos a cargos públicos. Sempre surgem com força as propostas de maior endurecimento da lei, de mais investimentos em segurança, chegam a dizer que o celular é mais perigoso que uma arma. Não obstante, devemos, temos a obrigação de procurar alternativas que rompam com o senso comum, que sejam informadas pelo que de fato ocorre em nossa sociedade, sem nos deixar prender por preconceitos de cunho moral.